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Reunião mensal da pastoral litúrgica outubro/novembro

Roteiro para Reunião Mensal – Pastoral Litúrgica – Outubro/Novembro
Cristo Rei – Dia do Cristão Leigo



Ambiente:
Preparar um local para colocar a Palavra de Deus com velas, uma cruz, camisas ou imagens de forças vivas existentes nas comunidades.

1. Oração Inicial
Mantra:
Cristo vive, Cristo reina, Cristo, Cristo impera!

Hino da Festa de Cristo Rei
Jesus, Rei tão admirável,
nobre Rei triunfador,
sois doçura inefável,
desejável ao amor.

Rei dos anjos, Rei do mundo,
Rei da máxima vitória,
doador de toda graça,
dos eleitos honra e glória.

Celebrando o vosso nome,
canta em coro todo o céu.
Jesus, gozo do universo,
que nos dais a paz de Deus.

Jesus reina pela paz
que supera o intelecto.
Nossas mentes a desejam
e a procura o nosso afeto.

A Jesus sigamos hoje
com louvor, canções e prece.
Dê-nos ele em sua casa
o amor que não perece

Ó Jesus, total doçura,
da Mãe Virgem sois a flor.
Para nós, no Reino eterno,
honra, graças e louvor.

Recordação da vida
Partilhar os fatos marcantes para a comunidade, a igreja, etc...

Mantra/Aclamação
Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei. Disse o Senhor.

Leitura do Texto bíblico
João 13, 1-17
Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia, o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de trair Jesus. Jesus sabia que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos. Sabia também que tinha saído de junto de Deus e que estava voltando para Deus.
Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha na cintura. Chegou a vez de Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar os meus pés?» Jesus respondeu: «Você agora não sabe o que estou fazendo. Ficará sabendo mais tarde.» Pedro disse: «Tu não vais lavar os meus pés nunca!» Jesus respondeu: «Se eu não o lavar, você não terá parte comigo.» Simão Pedro disse: «Senhor, então podes lavar não só os meus pés, mas até as mãos e a cabeça.» Jesus falou: «Quem já tomou banho, só precisa lavar os pés, porque está todo limpo. Vocês também estão limpos, mas nem todos.» Jesus sabia quem o iria trair; por isso é que ele falou: «Nem todos vocês estão limpos.»
Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-se de novo e perguntou: «Vocês compreenderam o que acabei de fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. Pois bem: eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática.»


O que o texto me diz?

Partilhar as impressões do que Deus diz a cada um e à comunidade e a pastoral litúrgica pelo texto.

Preces – o que digo a Deus?

R. Senhor, venha a nós o vosso Reino!
1 Cristo, nosso Rei e nosso Pastor, reuni de todos os pontos da terra as ovelhas do vosso rebanho, e apascentai-as nos prados da vida eterna. R.
2 Salvador e Guia da humanidade, fazei de todos nós um só povo: curai os enfermos, procurai os que estão perdidos, conservai os fortes,  chamai os que estão longe, congregai os dispersos, fortalecei os que vacilam. R.
3 Juiz eterno, colocai-nos à vossa direita no último dia, quando entregardes o Reino a Deus Pai,  e dai-nos a posse do Reino preparado para nós desde a criação do mundo.R.
4 Príncipe da paz, fazei desaparecer do mundo a guerra e a violência, - e concedei às nações a vossa paz. R.
(intenções livres)

5 Cristo, Primogênito dentre os mortos e Príncipe dos que adormeceram, - acolhei na glória da ressurreição os nossos irmãos e irmãs que partiram desta vida. R.

Pai nosso...


Vivência:
a) Amar e servir
Pedir que cada um observe as camisas ou imagens que representam as forças vivas da comunidade.
Cada um escolhe uma das camisas ou imagens que tem há ver com a própria experiência de servir, seguindo Cristo Rei.

b) O Lava pés
O lava-pés é um rito litúrgico, realizado na Quinta Feira Santa, na missa da Ceia do Senhor. Jesus ao lavar os pés dos discípulos quer demonstrar seu amor por cada um e mostrar a todos que a humildade e o serviço são o centro de sua mensagem. “Eu vim para servir”.
O lava-pés era muito usado no tempo de Jesus e até mesmo antes do seu nascimento. Era um trabalho feito por escravos, que consistia em lavar os pés dos patrões da casa e de daqueles que chegavam de viagem.
O rito do lava-pés não é uma encenação dentro da missa, mas um gesto litúrgico que repete o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou padre que lava os pés de algumas pessoas da comunidade está imitando Jesus no gesto, mas não como teatro; ao contrário, como compromisso de estar ao serviço da comunidade, para que todos tenham a salvação, como fez Jesus.
A celebração do Lava-Pés, é a maior explicação para o grande gesto de Jesus que é a Eucaristia. "Assim como Jesus se doa a nós, inteiramente, também somos chamados a nos doar para o irmão".
Quando celebramos a festa de Cristo Rei do universo, lembramos que Ele foi o primeiro a servir. Como Rei-Servidor Jesus nos ensina a servir.

c) Rito
* Quem preside faz a leitura dos versículos finais do texto bíblico:
“Naquele tempo, disse Jesus, Eu garanto a vocês: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática.” Palavra da Salvação.

* Quem preside amarra uma toalha ao redor da cintura com um cíngulo e lava os pés dos outros.

* Pode-se cantar a música que segue enquanto se faz o rito:
1. Jesus erguendo-se da ceia / Jarro e bacia tomou / Lavou os pés dos discípulos / Este exemplo nos deixou / Aos pés de Pedro inclinou-se / Ò Mestre, não por quem és? / /: Não terás parte comigo / Se não lavar os teus pés.:/
2. És o Senhor, tu és o Mestre / Os meus pés não lavarás / O que ora faço não sabes / Mas depois compreenderás / Se eu vosso Mestre e Senhor / Vossos pés hoje lavei / /: Lavai os pés uns dos outros / Eis a lição que vos dei.:/
3. Eis como irão reconhecer-vos / Como discípulos meus / Se vos ameis uns aos outros / Disse Jesus para os seus / Dou-vos novo mandamento / Deixo ao partir nova lei / /: Que vos ameis uns aos outros / Assim como eu vos amei.:/

Partilha sobre a Vivência
1. Falar sobre a experiência de quem presidiu e de quem participou.
2. Sugestões para aprofundar a vivência deste rito.



2. Estudo de temas

Se o grupo for grande pode-se dividir em quatro grupos, se for menor escolham, pelo menos, dois temas de estudo. (veja os temas em anexo abaixo)
Cada grupo vai ler o texto e responder às perguntas:
1. Quais as idéias mais importantes do texto?
2. O que o texto tem há ver com nossa realidade concreta?
3. O que podemos fazer para vivenciar na liturgia o que o texto nos apresenta?

Faz-se uma apresentação de cada grupo para os outros grupos. Escolhem-se as sugestões de vivencia litúrgica que possam ser assumidas pela Pastoral Litúrgica como um todo.


3. Encaminhamentos práticos da Pastoral Litúrgica

Ver as questões a serem encaminhadas sobre formação, reuniões e organização das equipes de celebração, etc...










4. Oração Final

Oração de benção
Deus eterno e todo-poderoso que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

O Senhor nos abençoe, nos livre de todo o mal e nos conduza à vida eterna. Amém.

Despedida e abraço da Paz




Textos para o Estudo

Texto 1: Cristo, um rei servidor

Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá

Festejar Cristo, Rei do Universo, é uma outra maneira de celebrar a Páscoa. Essa festa termina bem o ano litúrgico. Sem morte-ressurreição, a festa de hoje não teria nenhum sentido. De que realeza estamos falando? Que tipo de rei reconhecemos? Como dizia o biblista Jean-Pierre Prévost: “Para ser honesto com vocês, devo dizer francamente que não tenho nenhuma prelileção particular pela realeza e que, em si, o título de rei aplicado a Jesus não é aquele que mais me inspira”. Por essa razão, devemos redefinir a realeza, caso quisermos aplicá-la ao Cristo ressuscitado na Igreja de hoje; caso contrário, corremos o risco de associar Cristo a um monarca igual a todos os outros e que nos faria perder de vista o que Cristo foi e ainda é na Igreja de hoje. Infelizmente, alguns dirigentes da Igreja com frequência confundiram a realeza de Cristo com aquela dos homens, a ponto de deformar o rosto de Jesus. Felizmente, em cada época, houve discípulos, homens e mulheres, que souberam devolver ao Cristo a sua verdadeira realeza, que consiste em servir e não em ser servido.

1. A problemática da realeza

Jean-Pierre Prévost escreve: “A história da realeza em Israel começou mal. Foi a contragosto que o profeta Samuel acabou por consagrar Saul primeiro rei de Israel, para responder à demanda do povo que queria ser como todas as outras nações” (1 Sm 8,5). Podemos acrescentar que esse não teve um sucesso real. E por quê? Simplesmente porque o poder corrompe e o prestígio sobe à cabeça daqueles que exercem o poder. É evidente que na história de Israel houve reis melhores que outros; pensemos em Davi ou em Salomão. Mas esses dois reis, que a tradição bíblica soube embelezar, tornando-os símbolos idílicos, a história mostra que também eram muito humanos, portanto, limitados e pecadores.

No fundo, a Bíblia nos ensina que Deus não queria reis, porque a experiência da realeza era bastante negativa e a história de Israel é a prova disso, uma vez que a realeza não durou mais do que 400 anos e terminou de maneira trágica com o exílio de Sedecias para a Babilônia. O que Deus queria era um rei servidor e não um príncipe que dirige e que explora o seu povo. Esta má experiência da realeza permitiu ao povo de Israel purificar sua fé e imaginar um rei ideal, que seria um verdadeiro pastor e que viria estabelecer um reino de justiça e de paz a serviço dos pobres e dos desafortunados. Esse rei nós o reconhecemos no Cristo Pascal.

2. Cristo, Rei do Universo

Foi somente em 1925 que nasceu esta festa e não é pelas mesmas razões que nós continuamos a celebrá-la hoje. Jesus nunca se declarou rei; pelo contrário, o evangelho nos ensina que esse título foi dado a ele de maneira irônica e sarcástica por um rei, Herodes, e por um representante de César, Pôncio Pilatos... Jesus se defendeu: “Pilatos disse a Jesus: ‘Então tu és rei?’ Jesus respondeu: ‘Você está dizendo que eu sou rei’” (Jo 18,37a). Por outro lado, se dizemos que Cristo é rei, é porque reconhecemos nele o servidor que quis estabelecer o reino de justiça e de paz, tão desejado pelos homens e pelas mulheres do seu tempo. Mas ele não tem nada de outro rei: seu trono é a cruz; sua coroa é de espinhos e seu cetro é seu bastão de pastor. O evangelho de Lucas o apresenta, ao mesmo tempo, como um rei sem poder – “Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (Lc 23,37) – e como um rei muito humano, de sorte que o ladrão crucificado com ele que o interpela, não lhe diz: Majestade ou Senhor, ou Mestre ou ainda Sua Santidade ou Monsenhor... Não! Ele o chama de Jesus: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres em teu Reino” (Lc 23,42). Esse bandido torna-se o primeiro sujeito do Reino: “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso” (Lc 23,43). É o que fez São João Crisóstomo dizer: “Fiel à sua profissão de ladrão, ele rouba por sua confissão o reino dos céus”.

3. Atualização

Atualmente, temos necessidade de reler este evangelho para celebrar Cristo, Rei do Universo. É preciso nos perguntar: como sociedade e como Igreja, que tipo de rei apresentamos? Que rosto de Cristo mostramos às mulheres e aos homens do nosso tempo? Quantos políticos e lideranças da Igreja exercem o seu poder como monarcas déspotas e cruéis que têm coração muito mais para enriquecer do que servir a coletividade, a comunidade? Na Igreja, quantas dores foram infligidas aos cristãos(as) por lideranças principescas que acreditaram ser os únicos detentores da verdade?

Há alguns anos, o Papa João Paulo II pediu perdão pela Igreja do Renascimento; o cardeal Marc Ouellet fez o mesmo pela Igreja de Quebec antes de 1960, por todos os sofrimentos infligidos às mulheres, aos autóctones, aos judeus, às crianças, aos homossexuais... A reação das pessoas foi muito negativa. Homens, mulheres, membros do clero criticaram duramente tanto o Papa como o cardeal. Diziam que seu perdão era incompleto e condicional; não acreditavam em sua sinceridade. De sorte que o jornalista do jornal Presse, Alain Dubuc, resumiu bem o pensamento de muitos quebequenses sobre o cardeal Marc Ouellet, durante sua passagem pela Comissão Bouchard-Taylor, em 2007. Ele escreve: “Com seu ardor e sua carta de perdão, o cardeal Ouellet conseguiu nos lembrar porque os quebequenses rejeitaram em massa e tão brutalmente a sua Igreja durante os anos 1960. As reações foram muito vivas, porque Ouellet, com sua rigidez e sua arrogância, nos mergulha novamente neste período que os mais velhos dentre nós querem esquecer. Ouellet, eu o digo pesando minhas palavras, após uma leitura atenta das suas intervenções públicas, é um reacionário no sentido mais forte da palavra, alguém que se insurge contra a evolução da sociedade que o cerca, que quer resistir às mudanças e que defende as práticas e os valores que pertencem ao passado”.

Pessoalmente, acredito sinceramente que algumas lideranças eclesiais de hoje fazem muito mais mal à Igreja do que a ajudam; eles encarnam esta Igreja que os quebequenses não querem mais: uma Igreja dogmática e doutrinal que sempre exclui as mulheres, uma Igreja homofóbica que condena os homossexuais, uma Igreja obcecada pela sexualidade, uma Igreja que rejeita aquelas e aqueles que vivem um fracasso em seu casamento e que querem continuar a amar, uma Igreja que acredita ser a única detentora da verdade sobre Deus e sobre o mundo, uma Igreja que recusa qualquer evolução e qualquer mudança na sociedade, uma Igreja que não está a serviço do povo de Deus, mas que se serve dos cristãos para aumentar seu prestígio e seu poder. Com uma Igreja assim, estamos longe do Evangelho e, como durante muito tempo encontramos nela esses príncipes, não deveríamos nos surpreender ao ver mulheres e homens se afastarem desta instituição que lhes parece completamente ultrapassada. Felizmente, há o Papa Francisco que nos faz ter esperança e que se junta a todos os bispos, padres religiosos(as), cristãos que continuam a acreditar e que tanto gostariam de viver o evangelho hoje, apresentando um rosto de Cristo amável, misericordioso, tolerante, aberto, livre, justo, respeitoso do outro, dos outros, compassivo: um rosto de Cristo que faz o homem e a mulher na Quebec de hoje ter esperança.

Concluindo, eu gostaria de citar novamente o Alain Dubuc em sua reflexão sobre a Igreja e sua aproximação negativa ao cardeal Marc Ouellet: “De acordo com o cardeal Ouellet, um povo não pode se esvaziar tão rapidamente da sua essência sem consequências graves. De onde a confusão da juventude, a queda vertiginosa dos casamentos, a taxa ínfima de natalidade e o número espantoso de abortos e de suicídios para elencar apenas algumas das consequência que se somam às condições precárias dos idosos e da saúde pública. Esse retrato apocalíptico apaga convenientemente as misérias desta época passada, os efeitos da pobreza e da ignorância. Ele atribui à revolução silenciosa um fenômeno que encontramos em todas as partes do Ocidente. E o mais importante, ele se esquece de perguntar se este abandono brutal da religião não se deve às falhas da Igreja mais do que aos complôs dos artistas da revolução silenciosa.

A Igreja, em vez de acompanhar seus fiéis em um período de mudanças difíceis, os abandona, orgulhosa de sua rigidez, e dessa maneira falha em sua missão. Outras Igrejas, portadoras dos mesmos valores, escolheram um outro caminho, especialmente os anglicanos,  nossa Igreja irmã, onde os padres são casados, onde se ordena mulheres e onde o casamento gay começa, com dificuldades, a ser aceito.

De fato, o que é mais prejudicial é que a alternativa de Ouellet, uma iniciativa individual, compromete o verdadeiro diálogo no qual se engajaram muitos de seus colegas. Mas seria assombroso se tivesse um grande impacto, eleitoral ou qualquer outro, porque o cardeal está se tornando num personagem marginal para os menores de 70 anos. Exceto para nos lembrar porque a separação entre a Igreja e o Estado é tão boa”.



Texto 2: A vocação e os cristãos leigos
+ Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


As comemorações desse evento importante do século XX será uma oportunidade muito boa para que examinemos nossos passos dados e as propostas do Concílio.

Um dos aspectos levantados foi sobre o papel e a missão do cristão leigo na Igreja. A grande preocupação era não apenas de uma maior participação nas preocupações e trabalhos internos à comunidade, como, principalmente, o testemunho na sociedade, nas realidades temporais.

O fato de o cristão leigo não deveria ser apenas um expectador ou destinatário da mensagem evangélica e das preocupações da Igreja, mas, sim, ser consciente de sua missão de cristão ao interno da Igreja e testemunhando Jesus Cristo à sociedade.

Este foi um aspecto importante do Concílio Ecumênico Vaticano II, que foi um impulso dado pelo Espírito Santo à Igreja e sua presença no mundo hodierno, mas, dentre as variadas conquistas, podemos afirmar que uma delas foi certamente a valorização da vida e missão dos cristãos leigos, que emergiu como um elemento fundamental para a nova realidade do mundo em transformação.

A presença do cristão leigo está em muitos documentos, mas o Apostolicam actuositatem é dedicado totalmente ao cristão leigo. Creio que seja o primeiro num Concílio em toda a história da Igreja.

Dá-se uma nova ênfase ao conceito basilar da evangelização do mundo, sua transformação para uma feição mais humanizada, mais justa, e, portanto, mais cristã. Passamos, então, a falar da missão da Igreja no mundo, servindo ao reino e não a si mesma.

Portanto, nesta missão evangelizadora da Igreja, recorda-se a missão do cristão leigo, que, vivendo em sua realidade temporal, é chamado a ser sal, luz e fermento e assim transformar a realidade através de sua profissão, da sua presença na sociedade, na política, na cultura, nas ciências, nos esportes, e muito mais. Realidades que não são alcançadas apenas pelo clero nas suas atividades e missão cotidiana, mas que precisa de um protagonista. Aos leigos é dada essa vocação específica: fazer a Igreja presente e fecunda naqueles lugares e circunstâncias onde somente através dos leigos ela pode se tornar o sal da terra.

O Papa Paulo VI afirmava que os leigos são como uma ponte que une a Igreja à Sociedade. Não como uma interferência da Igreja na ordem temporal ou nas estruturas dos assuntos mais afetos à vida política ou econômica, mas, sim, para não deixar que o nosso mundo fique sem a mensagem da salvação crista, sem as luzes do Evangelho e da mensagem de Cristo. Portanto, os leigos são chamados a estabelecer este contato entre a vida eclesial e a sociedade, ser os construtores de uma nova maneira de servir o bem comum e imbuir a realidade terrestre de uma ordem transcendentes, eterna, Divina.

São Paulo nos afirma que toda a criação será recriada em Cristo. O mundo geme em dores de parto por uma nova ordem: mais justa, mais fraterna. Todos são convidados, portanto, a seguir o modelo de Cristo.

Os leigos são corresponsáveis pela missão da Igreja, companheiros de caminhada e em quem se confia, a quem se recorre, em quem se acredita e a quem se dá espaço na decisão, no planejamento e na execução das várias atividades na Igreja, e isso pela própria essência de sua consagração batismal.

Unidos a Cristo, através do Batismo, sacramento da fé, os leigos devem, portanto, estar atentos não só a uma pertença à Igreja, mas "ser" e sentir com a Igreja que é mistério de comunhão.

A V Conferência Episcopal Latino Americana, em Aparecida, afirma que "os fiéis são os cristãos que unidos a Cristo pelo Batismo, são o povo de Deus a participar nas funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles fazem, de acordo com sua condição. São os homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja. Sua missão é realizar o seu testemunho e atividade e contribuir para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas, segundo os critérios do Evangelho".

A missão não é somente uma escolha ou uma opção, mas, sim, um dom de Deus. A missão não é nossa nem de um grupo, mas é da Igreja, que nos envia, e no centro desta missão laical deve estar o Espírito do Senhor Ressuscitado, a quem obedecem com a mesma dignidade, mas com ministérios diversos, tanto os leigos como os ministros consagrados. Ter tal consciência desta centralidade da missão em Cristo é de fundamental importância na vida do laicato no seio da mãe Igreja.



Texto 2: UM REI A SERVIÇO DOS NECESSITADOS
Pe. Gilbert Mika Alemick, ssp


O projeto do Pai é vida e salvação para a humanidade. Para realizá-lo, ele enviou o seu Filho unigênito com a missão de libertar homens e mulheres da escravidão do pecado. Jesus passou pelo mundo cumprindo a vontade do Pai: pregou a boa-nova do reino, curou os doentes, defendeu os fracos e injustiçados, denunciou as injustiças… Ele se pôs ao lado dos pobres e excluídos, dos pequenos e humildes.

O Filho, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus um privilégio. Esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se igual aos homens (Fl 2,7). Obediente a Deus e servidor da humanidade, fez-se pobre para nos enriquecer com sua pobreza.

Jesus é rei, e percebemos isso nos dois extremos de sua vida terrena. Já no seu nascimento, os magos se referem ao recém-nascido como “o rei que acaba de nascer” (Mt 2,2). E também na cruz Jesus foi reconhecido como rei.

Mas o reinado de Jesus é o serviço. Ele é um rei que se compromete com a dignidade humana, de modo especial com os pobres. Como disse o papa João Paulo II, citado pelos bispos no Documento de Aparecida, “nossa fé proclama que Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem. Por isso, a opção preferencial pelos pobres e necessitados está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”. Da pessoa de Jesus, servidor da humanidade, decorre a missão de seus seguidores de se porem a serviço dos pobres.

Como cristãos, discípulos e discípulas de Cristo, cabe-nos imitá-lo, agindo da mesma forma que o Mestre, opondo-se a todo sistema egoísta e opressor que o mundo propõe. Com efeito, “de nossa fé nele nasce também a solidariedade como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em opções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos” (Documento de Aparecida).

Cristo é rei, mas o reinado dele é o da justiça e do amor. Um rei que se solidariza e se identifica com os necessitados: famintos, sedentos, estrangeiros, doentes, prisioneiros. Cada vez que realizamos atos de caridade e solidariedade em favor deles, é ao próprio Jesus que o fazemos.



Texto 4: A missão dos cristãos leigos
Por: Dom João Bosco Óliver de Faria

Os Leigos são cristãos que têm uma missão especial na Igreja e na sociedade. Pelo batismo, receberam essa vocação que devem vivê-la intensamente a serviço do Reino de Deus.

Na Igreja existem as diversas vocações: a sacerdotal, a diaconal, a religiosa e a leiga. Todas são muito importantes e necessárias, pois brotam do Batismo, fonte de todas as vocações.

Antigamente, a missão do leigo era relegada a segundo plano, valorizando-se só o sacerdócio e a vida religiosa. Mas depois do Concílio Vaticano 2, a vocação e missão dos leigos foram revalorizadas, conferindo-lhes a mesma dignidade dos sacerdotes e religiosos.

Dentro da comunidade eclesial, os leigos são chamados a desempenhar diversas tarefas: catequista, Ministro da Eucaristia, agente das diferentes pastorais, serviço aos pobres e aos doentes. São chamados também a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando de conselhos pastorais e econômicos.

Não como simples colaboradores do bispo e dos padres, mas como membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços para o engrandecimento da Igreja de Cristo.

Apesar desses serviços que desempenham na comunidade eclesial, a missão mais importante dos leigos é no mundo. Eles são chamados a realizar sua missão dentro das realidades nas quais se encontra no dia-a-dia.

Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política e da cultura, nos movimentos populares e sindicais, nos meios de comunicação, é chamado a testemunhar, pela palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo. Nessas realidades, é chamado a desempenhar sua missão, necessária e insubstituível.

Por isso o papel do leigo não é ficar o dia todo na igreja, mas ser fermento nesses campos de vida e de atuação, ser "sal da terra e luz do mundo". Nesses ambientes deve se empenhar para a construção efetiva do Reino de Deus, "um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz", como rezamos no prefácio da missa da festa de Cristo Rei.

O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol dos irmãos, onde há o respeito pêlos outros, onde se luta pela justiça e pela libertação. E tudo isso acontece de modo especial através da atuação dos cristãos leigos.

Quando os leigos assumem de fato sua missão específica, podemos sonhar com uma nova ordem social. O Concílio Vaticano 2 e os ensinamentos do papa insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens criados e sanando os males. Felizmente, muitos têm entendido essa missão e se empenhado para bem cumpri-la.

Vemos com muita esperança o crescimento hoje da tomada de consciência por parte de muitos leigos que compreendem essa índole específica de sua missão. Acreditam nela e procuram exercê-la de modo digno e eficiente para que se faça cada vez mais concreta a promessa de Jesus: "O Reino de Deus está presente no meio de vós."

Na festa de Cristo Rei é importante refletir sobre a corresponsabilidade na construção do Reino. Os leigos devem assumir seu papel, confiantes nas bênçãos divinas.

Devem participar da vida comunitária, buscando nas celebrações, sobretudo na Eucaristia, as forças de que necessitam para bem desempenhar sua missão na comunidade e no mundo.


Através dos leigos, a Igreja se faz presente nos diversos ambientes sociais, impregnando-os da mensagem de Jesus Cristo, semeando os valores evangélicos da solidariedade e da justiça, empenhando-se decisivamente na construção da sociedade justa, fraterna e solidária, sinal do Reino de Deus.