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Roteiro para Reunião Mensal Setembro

Roteiro para Reunião Mensal Setembro


Acolhida:
Acolher as pessoas na porta, pode-se fazer um pequeno cartão em formato de bíblia com a frase: “Tua Palavra é Lâmpada para meus pés e Luz para o meu caminho”. Entregar também a folhinha com os cantos e o recorte do rito.

Ambiente:
Preparar um lugar para a proclamação da Palavra, enfeitar com flores ao redor da “Mesa da Palavra” e preparar castiçais e velas.



1. Oração Inicial
Mantra: (Antes de iniciar a reunião, cantar algumas vezes o mantra)
“A Palavra está perto de ti, em tua boca, em teu coração”

Invocação ao Espírito Santo
(Se houver quatro velas, a cada duas estrofes acende-se uma vela)

Vem, ó Santo Espírito / manda do céu a todos nós, um raio da tua luz, um raio de luz!
Vem, ó Pai dos pobres / vem doador de tantos dons / luz de cada coração, dos corações.

Consolador perfeito / hóspede doce da alma / Suave alegria, suave alegria.
Na fadiga, repouso / no calor, restauro / Em todo pranto, conforto, em todo pranto, conforto.

Luz beatíssima/ invade os nossos corações / Sem a tua força nada / nada existe no homem.
Lava o que é impuro / aquece o que é frio / Eleva o decaído, eleva o decaído.

Doa a todos os teus fiéis / que confiam sempre em Ti / Os teus santos dons, os teus santos dons.
Doa virtude e prêmio / doa morte santa/ Doa alegria eterna. Doa alegria eterna.


Recordação da vida
(Recordar em especial os acontecimentos da vida litúrgica da Igreja em geral e da comunidade local. Recordar as motivações que teremos para celebrar no mês de agosto)

Cantar: recordações, lembranças da vida, sofrida e querida na festa e na dor, recebe nas mãos a recordação dos filhos e filhas amados, Senhor.


Vivência:

A) Faz-se  explicação do rito de benção e proclamação da palavra: a) Quem vai proclamar pede a benção; b) Quem preside reza a oração de benção; c) quem vai proclamar aproxima-se do ambão; d) Proclamação da Palavra; e) quem proclamou apresenta a Palavra e beija o livro.
B) Segue-se o recorte do rito

Mantra/Aclamação
É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa, Tua palavra é assim, não passa por mim, sem deixar um sinal (2x)
Tenho medo de não responder de fingir que não escuto Tenho medo de ouvir teu chamado, virar do outro lado e fingir que não sei.

Rito de Benção:
1. Quem vai proclamar aproxima-se de quem preside e diz: “Dai-me a vossa Benção”.
2. Quem preside diz: “Que o Senhor esteja em seu coração, e em seus lábios, para que possas anunciar dignamente o seu Evangelho."
3. Quem vai proclamar diz: O Senhor esteja convosco! Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas.
16 Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. 17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: 18 «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, 19 e para proclamar um ano de graça do Senhor.» 20 Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21 Então Jesus começou a dizer-lhes: «Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.» Palavra da Salvação.

3 Quem proclamou mostra o Livro para a Assembléia e em seguida beija o livro.

C) Partilha sobre a Vivência

Dar um tempo para que cada um se manifeste sobre a vivência.




2. Estudo de temas
Se o grupo for grande pode-se dividir em quatro grupos, se for menor escolham, pelo menos, dois temas de estudo. (veja os temas em anexo abaixo)
Cada grupo vai ler o texto e responder às perguntas:
1. Quais as idéias mais importantes do texto?
2. O que o texto tem há ver com nossa realidade concreta?
3. O que podemos fazer para relacionar as idéias dos textos com vivência da liturgia nas celebrações deste mês?

Faz-se uma apresentação de cada grupo para os outros grupos. Escolhem-se as sugestões que possam ser assumidas pela Pastoral Litúrgica como um todo.

3. Encaminhamentos práticos da Pastoral Litúrgica
Ver as questões a serem encaminhadas sobre formação, reuniões e organização das equipes de celebração, etc...



4. Oração Final

Preces:
Fazer um momento de preces espontâneas, depois de cada um pode-se dizer:
“Ouvi-nos e atendei-nos, Senhor”

Encerra-se o momento das preces rezando o Pai Nosso


Oração de benção
Terminado o a unção e o canto, quem preside reza a oração de benção:
O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!

Despedida e abraço da Paz

Motivar todas e todos a saudarem-se com o abraço da Paz.

Textos para o Estudo

Texto 1:
A PALAVRA DE DEUS NA LITURGIA DA IGREJA

«Cristo reúne-nos para escutar, ouvir, ser alimentados para formar comunidade a partir da Palavra de Deus».
Há alguns pontos que importa sublinhar no inicio da organização de alguns elementos de reflexão que desejaríamos partilhar. Antes de mais, com o Concílio Vaticano 11 (Sacrosanctum Concilium, n° 7), consideramos alegremente que, na acção litúrgica, Deus está presente na sua Palavra. Assumimos bem esta consciência porque ela é determinante. Quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia somos, desde logo, convidados à escuta! Somos um povo de filhos, reunido em Cristo, para escutar a palavra do Pai que está presente e nos fala!

Ousaríamos mesmo dizer que, quando celebramos a Eucaristia, não comungamos de verdade, sacramentalmente, se não nos deixamos alimentar pela vida que a Palavra de Deus nos transmite. Pensando na Eucaristia, como família reunida, somos convidados ao alimento abundante de duas mesas, postas pela generosidade do coração do Pai: a mesa da Palavra (ambão) e a mesa do sacrifício (altar). Ele Se dirige a nós para ser acolhido. S. Jerónimo, referindo-se à atitude que se deve adoptar, tanto em relação à Eucaristia como à Palavra de Deus, afirma: «Lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as santas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele fala em "comer a minha carne e beber o meu sangue" (Jo 6, 53), embora estas palavras se possam entender do mistério (eucarístico), todavia também a palavra da Escritura, o ensinamento de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e o seu sangue. Quando vamos receber o Mistério (eucarístico), se cair uma migalha sentimo-nos perdidos. E, quando estamos a escutar a Palavra de Deus que é carne de Cristo e seu sangue, se nos distraímos com outra coisa, não incorremos em grande perigo?». Realmente presente nas espécies do pão e do vinho, Cristo está presente, de modo análogo, também na Palavra proclamada na liturgia (cf. Bento XVI, Verbum Domini, 56). A proclamação da Palavra de Deus na celebração implica reconhecer que é o próprio Cristo que Se faz presente.

Quando nos reunimos na celebração litúrgica,Bento_11

seja na Eucaristia, seja em cada um dos outros sacramentos, só nos abrimos ao dinamismo da Graça se efectivamente acolhemos, com a inteligência e com o coração, a voz de Deus que tem «palavras de vida eterna», entendida esta como o abraço amoroso de Deus, que sempre Se revela na abundância do seu Amor. O documento pós-conciliar que nos fala do Ordenamento das Leituras da Missa (OLM), diz, no n° 5: «Quanto mais se compreende a celebração litúrgica, tanto mais intensamente se aprecia a importância da Palavra de Deus, pois o que se diz de uma pode também afirmar-se da outra, já que ambas (liturgia da palavra e liturgia eucarística) recordam o mistério de Cristo e o perpetuam, embora cada uma á sua maneira».
Se não consideramos, sempre de novo, esta manifestação, esta epifania do Amor, tantas vezes seremos imitadores/repetidores de gestos e rituais que nos terão sido legados, mas não somos positivamente afectados pela frescura e pelo alento da vida que do coração do Pai nos vem!

Há uma verdadeira conversão a fazer! Uma mudança de atitude, de paradigma, se impõe! Há ainda uma boa parte das nossas assembleias para a qual a Palavra é elemento ritual em passagem habitual. A vida e a libertação presentes na Palavra não encontram, por vezes, terra fértil e disponível. Deus fala! A sua comunicação é acto de amor! Quem escuta, só o faz de verdade se se abre a esse amor gratuito, capaz de abrir a novos e sempre mais belos caminhos e melodias de amor que podem dar sabor, encanto e alento à vida quotidiana. Pode cimentar as bases mais autênticas da verdadeira comunidade, da verdadeira família.

Nunca podemos deixar de sentir com profundidade que Cristo está sempre presente na sua palavra, a realizar o mistério da salvação, santificando os homens e prestando ao Pai o culto perfeito. A «exposição contínua, plena e eficaz da palavra de Deus é sempre viva e eficaz (Heb 4, 12) pelo poder do Espírito Santo e manifesta o amor operante e indefectível do Pai para com os homens» (OLM 4 e VD 52).

A Palavra de Deus, lida e proclamada Bblia006

na liturgia pela Igreja, conduz, como se de alguma forma se tratasse da sua própria finalidade, ao sacrifício da aliança e ao banquete da graça, ou seja, à Eucaristia (OLM 10). A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia, permanece incompleta a compreensão da Escritura (VD 55).
A palavra de Deus que é proclamada na celebração dos divinos mistérios, não se refere apenas às realidades presentes, mas também contempla o passado e antevê o futuro, estimulando a nossa esperança para essas realidades futuras, a fim de que, no meio da instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias (OLM 7).

Se aceitamos com humildade que Deus fala na Palavra e nela nos diz quem é, mas também quem somos; nos diz o passado, o presente e o futuro, como assembleia de filhas e de filhos, sentimo-nos família, formamos, a partir da vida interior, alimentada pela Palavra, verdadeira comunidade de vida, de fé.



Texto 2:

A Palavra de Deus na Liturgia
Por: Pe. Kleber Fernandes Danelon

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“Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus!" (Mt 4,4)

Nós, cristãos, herdamos da tradição judaica o costume de ler e orar a Palavra de Deus. O próprio Jesus, no Templo, desde pequeno, já ensinava a Palavra de Deus (Lc 2,41-52); e nas sinagogas, aos sábados, rezava salmos e lia trechos da Sagrada Escritura, que apontavam a chegada do Reino de Deus (Lc 4,15-22).


Quando reunidos em comunidade, os primeiros cristãos lembravam as palavras e os gestos de Jesus, sua morte e ressurreição, a vinda do Espírito Santo; davam graças a Deus, oravam e se alegravam. A cada reunião tentavam compreender tudo aquilo que havia acontecido com Jesus, e os sinais que estavam acontecendo com eles no dia-a-dia da missão.

Na história da liturgia da Igreja Romana, em parte do 2o milênio, as Sagradas Escrituras deixaram de ser lidas nas celebrações litúrgicas. O povo não tinha mais acesso à Palavra de Deus, sendo evangelizado através dos “sermões” e das lendas religiosas acerca da vida dos santos e do Santíssimo Sacramento. A recitação do rosário e a prática das novenas mantiveram a fé cristã viva por vários séculos.

Foi o Concílio Vaticano II, através da Constituição Conciliar “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia, que devolveu à Santa Missa e às outras celebrações litúrgicas o lugar privilegiado da Palavra de Deus: “Na celebração litúrgica é máxima a importância da Sagrada Escritura. Pois dela são lidas as lições e explicadas na homilia e cantam-se os salmos. É de sua inspiração que surgiram as preces, orações e hinos litúrgicos...; é necessário que se promova aquele suave e vivo afeto pela Sagrada Escritura...” (SC 24).


Hoje, dois mil anos depois, também nós, discípulos, continuamos nos reunindo em comunidade, ouvindo as palavras de Jesus, tentando compreender, com a ajuda do Espírito Santo, o que está acontecendo e buscando uma palavra de vida para nós mesmos, para a comunidade, para a sociedade e para o mundo. Na verdade, Deus continua nos falando hoje.

A Liturgia da Palavra é semelhante a um diálogo entre duas pessoas: Deus e seu povo, Jesus e sua comunidade reunida no Espírito Santo. É o diálogo da Aliança (Êx 19 – 24). Nela, há momentos em que ouvimos a fala do Senhor e há momentos em que a comunidade aclama ou responde àquilo que ouviu. Isso requer de nossa parte: atitude de fé, de acolhida, de profunda escuta; requer a disposição para entrar em diálogo e comunhão com o Deus da Aliança.


É preciso redescobrir a Liturgia da Palavra como um diálogo vivo e atual de Jesus com os seus discípulos, um diálogo amoroso, através do qual o Senhor vem alimentar nossa esperança, podar nossos vícios, aprofundar nossa fé e colocar a comunidade com mais firmeza no caminho do Reino.

Sugestões celebrativas:

• A Liturgia da Palavra não é apenas um momento de se ouvir falar de Jesus ou de acompanhar leituras que falam Dele; é o próprio Jesus que, estando no meio de nós, fala à comunidade reunida. Sua Palavra tem a força de nos curar, converter e transformar. Por isso, nas comunidades despertem as pessoas ao costume de ouvir as leituras com amorosa atenção, se possível, sobretudo o Evangelho, não acompanhando sua leitura nos folhetos, pois “quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, é Cristo que nos fala” (SC 07).

• Criem nas comunidades o ministério dos leitores e salmistas. Não peguem leitores de improviso. Promovam constantemente a formação bíblica, litúrgica, espiritual e técnica dos leitores e salmistas. Invistam nos sistemas de som das Igrejas e no uso adequado de microfones e instrumentos musicais.

• “A Igreja sempre venerou as escrituras divinas, como venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa tanto da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo” (DV 21). Haja, em toda comunidade, uma mesa da Palavra (ambão) de onde serão feitas as leituras bíblicas e cantado o salmo responsorial e, se oportuno, feita a homilia e proferida as preces dos fiéis.


Texto 3:
A Palavra de Deus vivifica a Igreja
«A carta que Deus enviou aos homens» [36]

Quando o Espírito Santo começa a mover a vida do povo, um dos primeiros e mais fortes sinais é o amor pela Palavra de Deus na Escritura e o desejo de conhecê-la melhor. Isso dá-se porque a Palavra da Escritura é uma Palavra que Deus dirige a cada um pessoalmente como uma carta nas circunstâncias concretas da vida. Ela tem uma imediação extraordinária e o poder de penetrar no centro do ser humano. Com efeito:

- a Igreja nasce e vive da Palavra de Deus;
- a Palavra de Deus sustém a Igreja ao longo de toda a sua história;
- a Palavra de Deus permeia e anima, no poder do Espírito Santo, toda a vida da Igreja.

A Igreja nasce e vive da Palavra de Deus

27. Nos Actos dos Apóstolos lê-se que Paulo e Barnabé, em Antioquia, «à chegada, convocaram a comunidade, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé» (Actos 14, 27).

O Sínodo é o lugar onde certamente se poderão ouvir «os milagres e prodígios» da Palavra de Deus, como aconteceu em Antioquia e na assembleia de Jerusalém, quando escutavam Barnabé e Paulo (cf. Actos 15, 12). Em todas as Igrejas particulares, com efeito, se fazem múltiplas experiências da Palavra de Deus: na Eucaristia, na Lectio Divina comunitária e pessoal, no dia da Bíblia, nos cursos bíblicos, nos grupos do Evangelho ou de escuta da Palavra de Deus, no caminho bíblico diocesano, nos exercícios espirituais, nas peregrinações à Terra Santa, nas celebrações da Palavra, nas expressões da música, das artes plásticas, da literatura e do cinema.

Diversas constatações emergem das respostas aos Lineamenta:

- Depois do Concílio Vaticano II, lê-se mais a Palavra de Deus, sobretudo no contexto da liturgia eucarística. Em muitas Igrejas, dá-se um lugar privilegiado à Bíblia, expondo-a de forma visível ao lado do altar ou sobre o altar, como acontece nas Igrejas orientais.

- Está a fazer-se um grande esforço, por parte da Igreja, para que o acesso à Sagrada Escritura seja uma realidade de povo. Conferências Episcopais, dioceses, paróquias, comunidades religiosas, associações e movimentos enveredaram pela estrada-mestra da Palavra de Deus de forma totalmente inesperada em relação a algumas décadas atrás.

- O desejo de ser introduzido no gosto da Palavra de Deus é para alguns prioritário em relação a outros pedidos de serviço pastoral. Esta é uma necessidade sentida até por pessoas afastadas, que se mostram sensíveis ao Jesus dos Evangelhos.

- Não quer dizer que o grau de familiaridade com a Palavra de Deus seja uniforme. No mundo de antiga cristandade, a Bíblia encontra-se hoje nas casas, mais que noutros tempos, mas talvez nem sempre como Livro verdadeiramente lido. Dados estatísticos mostram como, numa boa parte do mundo, ainda deve crescer muito o uso significativo da Bíblia e como deve amadurecer a consciência do papel fundante e decisivo da Palavra de Deus para uma vida de fé.

- Diferente é o dado de outras áreas geográficas, onde o problema maior é a escassez de meios, sobretudo traduções. É edificante mencionar as experiências que esses nossos irmãos e irmãs, em geral pobres, fazem no contacto com a Palavra de Deus. Sirva ao menos de testemunho autorizado quanto se lê na Nota da Pontifícia Comissão Bíblica: «É motivo de alegria ver gente humilde e pobre pegar na Bíblia, podendo dar à sua interpretação e à sua actualização uma luz mais penetrante, do ponto de vista espiritual e existencial, que a que vem de uma ciência segura de si».[37]

- Surge um paradoxo: à fome da Palavra de Deus nem sempre corresponde uma pregação adequada por parte dos Pastores da Igreja, por deficiências na preparação do tempo de seminário ou na prática pastoral.

Texto 4:
Palavra de Deus e Eucaristia

35. Embora na prática a liturgia da Palavra muitas vezes peque de improvisação e, outras vezes, tenha pouca ligação com a Liturgia Eucarística, a unidade intrínseca da Palavra com a Eucaristia está radicada no testemunho escriturístico (cf. Jo 6), é afirmada pelos Padres da Igreja e reafirmada pelo Concílio Vaticano II (cf. SC 48.51.56; DV 21.26; AG 6.15; PO 18; PC 6). Na grande tradição da Igreja, encontramos expressões significativas, como «Corpus Christi intelligitur etiam, [...] Scriptura Dei» (Também a Escritura de Deus considera-se Corpo de Cristo) [46], «ego Corpus Iesu Evangelium puto» (Considero o Evangelho Corpo de Jesus) [47].

A maior consciência que se tem da presença de Cristo na Palavra é benéfica, tanto para a preparação imediata da celebração eucarística, como para a união com o Senhor nas celebrações da Palavra. Por isso, este Sínodo está em continuidade com o precedente sobre a Eucaristia e pede uma reflexão específica sobre a relação entre Palavra de Deus e Eucaristia [48]. Diz São Jerónimo: «A carne do Senhor, verdadeira comida, e o seu sangue, verdadeira bebida, esse é o verdadeiro bem que nos é reservado na vida presente: alimentar-se com a sua carne e beber o seu sangue, não só na Eucaristia, mas também na leitura da Sagrada Escritura. É, de facto, verdadeira comida e verdadeira bebida a Palavra de Deus que se obtém do conhecimento das Escrituras».[49]

Palavra e economia sacramental

36. A Palavra tem de ser vivida, na economia sacramental, como acolhimento de força e graça, e não apenas como comunicação de verdade, doutrina e preceito ético. A Palavra provoca um encontro em quem escuta com fé, tornando-se celebração da aliança.

Preste-se a mesma atenção a todas as formas de encontro com a Palavra na acção litúrgica: nos sacramentos, na celebração do Ano Litúrgico, na Liturgia das Horas, nos sacramentais. Especial atenção deve ser dada à Liturgia da Palavra na celebração dos três sacramentos da Iniciação cristã: Baptismo, Confirmação e Eucaristia. Pede-se uma nova consciência sobre o anúncio da Palavra de Deus na celebração, sobretudo individual, do sacramento da Penitência. A Palavra de Deus deve também ser valorizada nas variegadas formas da pregação e da piedade popular.

Consequências pastorais

37. Na atenção pastoral, o primeiro lugar cabe à Eucaristia, enquanto é «mesa quer da Palavra de Deus quer do Corpo de Cristo», intimamente unidos (DV 21), sobretudo no Dia do Senhor. A Eucaristia «é o lugar privilegiado onde a comunhão é constantemente anunciada e cultivada» [50]. Tendo em conta que a Missa dominical é, ainda hoje, para a maioria dos cristãos o único momento de encontro sacramental com o Senhor, a mesma torna-se dom e tarefa a promover, com paixão pastoral e com celebrações autênticas e alegres. A Eucaristia, celebrada nesta íntima fusão de Palavra, sacrifício e comunhão, constitui um objectivo primário do anúncio e da vida cristã.

Procure-se que as diversas partes da liturgia da Palavra – anúncio das leituras, homilia, profissão de fé, oração dos fiéis – se processem de forma harmoniosa, pondo em evidência a sua íntima ligação com a liturgia eucarística [51]. Aquele de quem os textos falam torna-Se presente no sacrifício total de Si ao Pai.

Valorizem-se as Introduções, que explicam o conteúdo da liturgia, de modo especial os Praenotanda do Missal Romano, as Anáforas orientais, o Ordo Lectionum Missae, os Leccionários, o Ofício Divino, e se os torne objecto de formação litúrgica dos Pastores e dos fiéis, juntamente com a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II.

Também sobre as traduções, pede-se menos fragmentação dos trechos e mais fidelidade ao texto original. Tendo presente que, na liturgia, o rito e a Palavra devem permanecer intimamente unidos (cf. SC 35), o encontro com a Palavra de Deus deve fazer-se na especificidade dos sinais que fazem parte da celebração litúrgica. São os casos, por exemplo, da colocação do ambão, do cuidado com os Livros litúrgicos, de um conveniente estilo de leitura, da procissão e incensação do Evangelho.

Além disso, ter-se-á o maior cuidado com a liturgia da Palavra, com a proclamação clara e compreensível dos textos e com a homilia, que se faz ressonância da palavra [52]. Isso implica a escolha de leitores capazes e preparados. Para o efeito, são necessárias escolas, inclusive diocesanas, de formação de leitores. Nesta óptica de melhor compreensão da Palavra de Deus na Missa, são úteis as breves monições que dão o sentido das leituras a proclamar.

Sobre a homilia, espera-se um maior empenho de fidelidade à Palavra bíblica e à condição dos fiéis, ajudando-os a interpretar os acontecimentos da vida e da história à luz da fé. Essa não deveria se limitar exclusivamente ao aspecto bíblico, mas seria oportuno que abraçasse também os temas dogmáticos e morais fundamentais. Para o efeito, é indispensável uma adequada formação dos futuros ministros. Recomenda-se que a comunicação da Palavra de Deus seja feita, juntamente com o canto e a música, valorizando palavras e silêncio. Fora da liturgia, admitem-se formas de dramatização da Palavra de Deus, com escritas e figuras e, inclusive, obras artisticamente decorosas, como por exemplo o teatro sagrado.


Deseja-se que as comunidades religiosas, de modo especial as monásticas, ajudem as comunidades paroquiais a descobrir e saborear a Palavra de Deus na celebração litúrgica. Relativamente ao Ofício Divino com a Liturgia das Horas, em que o povo está disposto a participar, tornou-se hoje indispensável reflectir sobre o modo de tornar pastoralmente mais adequado e acessível aos fiéis esse excelente canal da Palavra de Deus.

Texto 5:
 A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja
Dom Jacyr Francisco Braido
Bispo de Santos (SP)

No mês de agosto, tratamos das vocações à vida cristã: Sacerdócio, Família, Vida consagrada e Catequistas (Leigos e Leigas). No mês de setem-bro, mês da Bíblia, tratamos da Palavra de Deus como fundamento da Igreja, das Vocações e de nossa Oração.

I. A BÍBLIA, FUNDAMENTO DA IGREJA E DA VIDA CRISTÃ - De-senvolvemos o tema a partir da Exortação Apostólica "VERBUM DOMINI", do Papa Bento XVI, dirigida ao Episcopado, ao Clero, às Pessoas Consagradas e aos fiéis Leigos sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. A Exortação expõe os conteúdos principais da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre o coração da vida cristã: a Palavra de Deus.

O Santo Padre explicita: "A Igreja funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela. No Concílio Vaticano II, a Dei Verbum deu grande impulso à redescoberta da Palavra de Deus na vida da Igreja, à reflexão teológica sobre a Revelação divina e ao estudo da Sagrada Escritura. E descreve um detalhe no Sínodo; "Na XII Assembleia sinodal, Pastores vindos de todo o mundo congre-garam-se ao redor da Palavra de Deus, colocando simbolicamente no centro da Assembleia o texto da Bíblia, para redescobrirem algo que nos arriscamos  a dar por adquirido no dia-a-dia: o fato de que Deus nos fale e responda às nossas perguntas". E acrescenta: "Isto significa que quanto mais aprofundarmos nossa relação com o Senhor Jesus, tanto mais nos damos conta que Ele nos chama à santidade, através de opções definitivas, pelas quais a nossa vida responde ao seu amor, assumindo funções e ministérios para edificar a Igreja (VD, 77).

II. A BÍBLIA NA BASE DAS VOCAÇÕES:

a) - Palavra de Deus e Ministros ordenados e candidatos às ordens sacras - "Dirigindo-me em primeiro lugar aos Ministros Ordenado da Igreja, recordo-lhes o que afirmou o Sínodo: a Palavra de Deus é indispensável para formar o coração de um bom pastor, ministro da Palavra. Bispos, presbíteros, diáconos e candidatos às ordens sacras não podem de forma alguma pensar em viver a sua vocação e missão sem um decidido e renovado compromisso de santificação, que tem um de seus pilares no contacto com a Bíblia" (VD, 78). particularmente na lectio divina.

b) - Palavra de Deus, matrimônio e família - "Com o anúncio da Pa-lavra de Deus, a Igreja revela á família cristã a sua verdadeira identidade, o que ela é e o que deve ser segundo o desígnio de Deus. A Palavra de Deus está na origem do matrimônio. Na celebração sacramental, o homem e a mulher pronunciam uma palavra profética de doação recíproca: ser uma só carne, sinal de união de Cristo e da Igreja. Deriva deste mistério nupcial a responsabilidade dos pais em relação a seus filhos: a comunicação e o testemunho da vida em Cristo. Cada casa tenha a sua Bíblia e a conserve em lugar digno para poder lê-la e utilizá-la na oração (VD, 85).

c) - Palavra de Deus e vida consagrada - "Esta nasce da escuta da Palavra de Deus e acolhe o Evangelho como norma de vida. Dela brotou cada um dos carismas e respectivas Regras. A grande tradição monástica teve como fator constitutivo da própria espiritualidade a meditação da Sagrada Escritura, particularmente na forma de lectio divina" (VD, 83).

d) - Palavra de Deus e fiéis leigos - Os fiéis leigos difundem o Evan-gelho no trabalho, na escola, na educação e na sua inserção nas realidades temporais e participação nas atividades terrenas. Precisam ser formados a discernir a vontade de Deus por meio de uma familiaridade com a Palavra de Deus, lida e estudada na Igreja, sob a guia dos legítimos pastores (VD, 84).

III. A BÍBLIA FUNDAMENTA NOSSA ORAÇÃO:

a) - A Leitura orante da Palavra de Deus:
O Documento do Concílio Vaticano II Dei Verbum recomenda que todos os fiéis "debrucem-se gostosamente sobre o texto sagrado, que através da Sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiri-tual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e o estímulo dos  pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração" (DV, 25). "O lugar privilegiado para a leitura orante da Bíblia é a Liturgia, parti-cularmente a Eucaristia, na qual, ao celebrar o Corpo e o Sangue de Cristo no Sacramento, se atualiza no meio de nós a própria PALAVRA, que é Jesus (VD, 86)

b) - A Lectio divina - A Lectio divina " é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o en-contro com Cristo, Palavra divina viva".

Os três passos fundamentais da Lectio Divina são:

1.    Lectio (Leitura): O que diz o texto? Começa-se sempre com a leitura atenta;
2.    Meditatio (Meditação): O que nos diz o texto? Trata-se de palavras pronunciadas no presente e não apenas no passado;
3.    Oratio (Oração): o que dizemos ao Senhor em resposta à sua Palavra.

Há ainda outro momento da Lectio Divina, chamado:

Contemplatio (Contemplação) - Neste momento, assumimos como dom de Deus o seu próprio olhar, ao julgar a realidade, e interrogamo-nos: qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede? "Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito", afirma o Apóstolo (Rm, 12,2).

Terminamos contemplando a Mãe de Jesus. Maria sintetiza todos os momentos da oração e das escolhas na vida. Ela "conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração" (Lc 2,19) e sabia encontrar o nexo profundo que une os acontecimentos, os atos e as realidades, aparente-mente desconexos, no grande desígnio divino. Nossa Senhora do Monte Serrat nos abençoe e proteja!